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O Mundo Mudou

Você sabe o que é um "transhumano"?

Daniela Klaiman

17/10/2019 04h00


Estamos em um constante estado de transformação. Nosso processo de evolução é na verdade um processo de coevolução, o que significa que a nossa existência é um processo codependente, influenciado pelo desenvolvimento de diferentes seres, plantas e animais.

Nós somos transespécies desde o início e essa constante transformação originou uma variedade incrível de sentidos e habilidades, como a comunicação infrassom, adaptação de cores, bioluminescência e a visão noturna.

Desde os princípios da humanidade, nós temos usado nossas habilidades para criar diferentes tecnologias que são usadas para adaptar o mundo as nossas necessidades. Nós transformamos o nosso meio ambiente através da tecnologia.

Mas isto está pra mudar. Existe uma nova e poderosa mentalidade surgindo, que irá definir o tom do futuro próximo. De agora em diante, os seres humanos estão migrando do uso da tecnologia para transformar o meio ambiente para usar na transformação do nosso corpo e mente, de modo a desenvolver novos sentidos e habilidades para melhor se adaptar ao mundo em que vivemos.

Imagine quão moderna as cidades poderiam ser se em vez de ter sido inventada a lâmpada, nós tivéssemos escolhido evoluir para ter uma visão noturna.

Um novo mundo de possibilidades estão se abrindo neste momento. Nós temos a liberdade de combinar a tecnologia e o nosso corpo, honrando as nossas transespécies originárias, se reconectando com a natureza e criando um relacionamento mais balanceado entre nós e o universo

Cyborg Foundation

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O texto acima é uma transcrição de um vídeo da Cyborg Foundation, criada em 2010 pelos artistas ativistas Neil Harbisson e Moon Ribas, com o objetivo de ajudar humanos a se tornarem ciborgues. O trabalho dos dois é incrível! Além de artistas, eles promovem a liberdade de se autodesenhar (design yourself), se desenvolver e de se tornar um transhumano!

O trabalho da Cyborg Foundation é sério. Todos os meses recebem centenas de mensagens de pessoas que escrevem para dizer que sentem a falta de algum sentido extra no seu corpo: um visão noturna, uma sensação sonora. E ainda que não tenham essas habilidades ou modificações no corpo, essas pessoas não se identificam como seres humanos!

Deixa eu explicar melhor.

Foi assim com o Neil. Ele nasceu com uma síndrome chamada Acromatopsia, em que ele não conseguia enxergar cores, o que o levou a estudar para desenvolver o seu primeiro sentido cibernético: escutar cores. Com uma antena implantada em seu crânio e conectada ao cérebro, Neil desenvolveu a habilidade especial de escutar e identificar as cores através de vibrações.

Ciborgues se inspiram na natureza e em outras espécies de seres vivos

A gente imagina um ciborgue como um Exterminador do Futuro, mas na verdade ser ciborgue é possuir uma conexão muito maior com o meio ambiente, com novos sentidos que o ser humano nunca poderia ter. Moon Ribas, por exemplo, tem implantes no corpo que permitem sentir os tremores da terra e faz coreografias de acordo com os tremores que ela sente. Hoje ela é um detector de terremotos.

Por isso, se tivéssemos mais conectados com a terra e com a natureza, poderíamos saber quando vai chover, ter um terremoto, erupção, etc…

Transcendendo fronteiras humanas

A revista "Wired" publicou no ano passado uma matéria dizendo que hoje quem mora em Nova York cruza com pelo menos cinco ciborgues ao dia, no caminho entre a sua casa e o trabalho. Isso já é uma realidade.

Estamos começando de uma maneira muito simples, com o implante de chip RFID na pele, que permite fazer coisas simples como abrir uma porta ou catraca do metrô ou fazer algum tipo de pagamento. Na Suécia, em 2018 já eram mais de 3 mil pessoas que possuíam a tecnologia RFID.

E por falar em Suécia, sabe o implante da cabeça do Neil? Foi elaborado com peças suecas e por isso ele possui uma parte do seu corpo que é de lá. Com isso, acreditem, o Neil hoje tem uma nacionalidade sueca!

Eu tive a oportunidade de conhecer o Neil e a Moon quando estiveram no Brasil em 2016 e participar da Mesa Ciborgue, um encontro com a ideia de desenhar uma nova habilidade e sentido a eles. Dali saiu o Bluetooth tooth, um sistema de comunicação bluetooth que permite aos dois conversarem apenas através de vibrações em código morse, sentidas nos dentes.

O implante foi feito no Brasil, e a tecnologia do bluetooth era provavelmente de origem chinesa como a maioria é! Então será que no futuro todos nós teremos passaporte chinês?

E vocês? Quando se tornarão ciborgues?

Sobre a Autora

Futurista formada em tecnologia e futurismo pelo TIP – Transdiciplinary Innovation Program da Universidade de Jerusalém. Expert em Consumer Behavior and Trends Research, Pós-graduada em Coolhunting & Trends pela Universidade de Barcelona e foi diretora de Planejamento e Consumer Insights da Box1824 durante 5 anos. Consultora e palestrante nas áreas de inovação, pesquisa de mercado, desenvolvimento de produtos, comportamento do consumidor e transformação digital, atua junto a grandes empresas mostrando o que elas devem fazer para sobreviver a esse novo mundo que vivemos e mudanças rápidas. Co-fundados de 2 startups: Unpark e WinWin.

Sobre o Blog

É possível analisar o futuro por 2 ângulos diferentes: aquele mais imediato, que prevê os acontecimentos dentro de 0 a 5 anos e é estudado e aprendido através do comportamento das pessoas; e outro ângulo mais longínquo, que enxerga um intervalo de tempo de 5 a 50 anos e que é totalmente baseado no desenvolvimento e uso da tecnologia. A ideia desse blog é justamente analisar os dois futuros juntos e entender como a tecnologia vai influenciar nossas vidas e como a forma como vivemos e nossos valores influenciam a tecnologia, atingindo um balanço complexo, porém em linguagem simples e quase chula, para que todos possam começar a pensar no futuro e entender que somos nós os responsáveis por construir um cenário positivo para todos. Ou não. O futuro está em nossas mãos e é um assunto urgente de ser tratado hoje.