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O Mundo Mudou

Em breve você será um usuário de Cannabis

Daniela Klaiman

26/09/2019 04h00

Crédito: Unsplash

Quando a gente fala em maconha, o que você pensa?

A maioria das pessoas pensa no uso de drogas, jovens 'chapados', hippies, Bob Marley e outras associações caricatas. Porém já há algum tempo que a maconha vem sendo ressignificada no mercado e explorada para novos propósitos.

Atualmente chamado de Cannabusiness, este é um dos mercados mais promissores do mundo e espera alcançar USD 146,4 bilhões até o final de 2025.

Legalidade

O primeiro país a legalizar a Cannabis do mundo foi latino-americano! Sim! Em 2013, o Uruguai foi o primeiro país a liberar o consumo recreacional de cannabis no mundo. Nos anos seguintes, novas legislações controlaram os números de plantações, usos medicinais, venda em farmácias e lojas especializadas e por aí vai.

Você deve estar se perguntando: mas e a Holanda, não veio primeiro? Bom, lá é diferente. O país aceita o uso pessoal e posse da cannabis desde 1976, porém limitados a posse e venda de cinco gramas por pessoa. Quanto ao cultivo? Menos de cinco plantas.

O Canadá foi o segundo país a ser legalizado (em 2018) e opera com alto controle do governo que licencia as empresas para o cultivo, processamento e venda da planta, seja para uso recreacional ou medicinal. Em menos de um ano, o país já possui mais de 230 empresas licenciadas, entre elas a Canopy Growth, a maior companhia de cannabis do mundo com mais de 3.200 funcionários e ações na NYSE – por curiosidade, as ações da Canopy Growth tiveram em três anos um salto de 2125%. Isso sim é investimento com boa rentabilidade!

Nos Estados Unidos, o país segue as leis e acordo com cada estado. Hoje já são 33 estados com diferentes licenças, sendo 30 deles liberados para uso medicinal e nove para uso recreacional. Ainda assim, a maconha é proibida pelo governo federal.

No restante do mundo, a legalização está avançada em países como Austrália, Peru, Equador, Argentina, Venezuela, Espanha, Luxemburgo, Bélgica, Portugal, Jamaica, África do Sul e Israel. Infelizmente no Brasil a realidade parece distante e o mais perto que estamos é a liberação via Anvisa para o uso medicinal caso a caso.

O marketing verde

Todos estão querendo uma fatia desse mercado promissor. O melhor meio de ganhar esse mercado é tornar o consumo de cannabis algo normal. Foi pensando nisso que Spike Jonze, famoso diretor de cinema norte-americano, criou o vídeo promocional para marca e loja Med Men. A marca é conhecida como o Starbucks da maconha e possui 25 lojas em funcionamento nos estados do Arizona, NY e Califórnia e está para abrir mais dez na Flórida. O objetivo da marca é a normalização da cannabis na rotina do consumidor americano.

Veja o video abaixo:

Não poderia ser diferente com as celebridades. Estes estão cada vez mais presentes em prol da legalização e avanço das leis nos Estados Unidos e vão além em suas participações. Entre eles estão Mike Tyson, que possui marca própria e seu acampamento de luxo para vivenciar e curtir sua plantação na California. Além disso, a melhor sociedade dos últimos tempos –Snoop Dogg se juntou a ninguém menos que Martha Stewart num empreendimento da cannabis.

Maconha por tipo de aplicação

O boom do Cannabusiness pode fazer com que pensem: estamos aumentando e legalizando o consumo de droga?! Não é isso. A cannabis deve ser melhor entendida antes de criticar.

Cannabis é o nome cientifico da planta da maconha. A maconha há anos vem sendo tratada como a erva alucinógena e que dá barato, mas isso não é a Cannabis, isso se chama THC. O THC está em algumas composições de alguns tipos da planta da Cannabis, ou seja, a maior parte dos produtos e derivados da Cannabis contém menos de 0,3% de THC e não gera nenhum efeito alucinógeno.

Para entender melhor o tipo de aplicação da Cannabis, nomeamos pelo tipo de uso.

A mais conhecida até então era a maconha recreacional, ou seja, a que contém THC, que é comprada em coffee shops em Amsterdam, a que "dá barato". Essa representa cerca de 35% do mercado total e é esperada que na sua legalização supere o mercado de venda de tabaco.

A segunda classificação e mais popular é a cannabis medicinal –26o cannabidiol (CBD). Aqui o uso de CBD tem apresentado resultados incríveis em pacientes com câncer, dor, ansiedade, perda de apetite, processos inflamatórios, controle de crises epiléticas e outros. O CBD tem potencial de venda de USD 22 bilhões até 2022.

E a última apresentação é a cannabis com fins industriais. Os produtos adjacentes da maconha estão aparecendo com mais frequência e estão em mercados inimagináveis como energia, construção, biodiesel, têxtil, plástico.

A concorrência inesperada

A propagação dos derivados da cannabis por diversos setores está alcançando um lugar que jamais esperávamos ou tivéssemos noção que pudessem haver espaço para concorrência. O potencial da planta está bem mais próximo de nós do que imaginávamos. Um desses casos é o do plástico.

Um plástico comum leva anos para se decompor, enquanto que o plástico feito de maconha é biodegradável, possui a mesma durabilidade e leva pouquíssimo tempo para decomposição total. Já foi usado em carros, óculos e funciona perfeitamente como material para impressora 3D. Dizem por aí que o hemp-based bioplastic está a caminho de superar o mercado atual de plásticos a base de petróleo na próxima década.

Outro exemplo é no setor de construção. No futuro espero ter uma casa de maconha. Parece improvável mas não é, o hempcrete, ou concreto de maconha, já é uma realidade. Feito de uma mistura de fibras, cal e cannabis, é um bio-composto excelente como material de construção e isolamento. Funciona como um substituto para o dry wall e com maior duração do que qualquer outro material para o mesmo uso.

E não acaba aqui. A maconha, plantinha dos hippies, da marofa e ilegal, tem lugar também na indústria têxtil, no biodiesel e na fabricação de papel (principalmente papel higiênico, que evitaria o uso de 270 mil árvores por dia no mundo).

Estão entendendo que temos com a cannabis uma concorrência vinda de um mercado que muitos jamais imaginariam? E não é só isso. O mercado de cannabis vem para matar não só o mercado do plástico, do tabaco, como muitos outros!

E ai? Ainda enxerga a maconha como antes?

Em breve você também será um usuário de cannabis em vários de seus formatos.

Sobre a Autora

Futurista formada em tecnologia e futurismo pelo TIP – Transdiciplinary Innovation Program da Universidade de Jerusalém. Expert em Consumer Behavior and Trends Research, Pós-graduada em Coolhunting & Trends pela Universidade de Barcelona e foi diretora de Planejamento e Consumer Insights da Box1824 durante 5 anos. Consultora e palestrante nas áreas de inovação, pesquisa de mercado, desenvolvimento de produtos, comportamento do consumidor e transformação digital, atua junto a grandes empresas mostrando o que elas devem fazer para sobreviver a esse novo mundo que vivemos e mudanças rápidas. Co-fundados de 2 startups: Unpark e WinWin.

Sobre o Blog

É possível analisar o futuro por 2 ângulos diferentes: aquele mais imediato, que prevê os acontecimentos dentro de 0 a 5 anos e é estudado e aprendido através do comportamento das pessoas; e outro ângulo mais longínquo, que enxerga um intervalo de tempo de 5 a 50 anos e que é totalmente baseado no desenvolvimento e uso da tecnologia. A ideia desse blog é justamente analisar os dois futuros juntos e entender como a tecnologia vai influenciar nossas vidas e como a forma como vivemos e nossos valores influenciam a tecnologia, atingindo um balanço complexo, porém em linguagem simples e quase chula, para que todos possam começar a pensar no futuro e entender que somos nós os responsáveis por construir um cenário positivo para todos. Ou não. O futuro está em nossas mãos e é um assunto urgente de ser tratado hoje.