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O Mundo Mudou

Seremos todos veganos?

Daniela Klaiman

14/11/2019 04h00

crédito: Unsplash

O Brasil, junto com a China, União Européia, Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália e Nova Zelândia são responsáveis por mais de 60% das emissões de gases poluentes do mundo, e eles são provenientes da indústria de carne e laticínios. Esses são dados de um estudo conduzido pela IATP e GRAIN, que me deixa concluir que, em termos per capita, um brasileiro é duas vezes mais responsável por poluir do que um cidadão africano.

Fato é que eu não gostaria de levar essa culpa, mas acho importante que ao menos tivéssemos essa consciência. Entre 2000-2013, os pastos representaram 63% da extinção de superfície do bioma Amazônico. Em 2018, o Brasil bateu o recorde de volume de exportação de carne dos últimos tempos. A JBS, principal player do mercado brasileiro, e as outras quatro maiores empresas do ramo foram responsáveis por poluir mais que a indústria petrolífera.

Enfim, tudo isso é só a ponta do iceberg. Fatores como a degradação do solo, mau uso da água, desperdício, perda de biodiversidade e crueldade animal completam parte da lista e contribuem para repensarmos o nosso consumo. 

Seremos todos veganos?

Aderindo a uma dieta vegana sem carnes e laticínios, poderíamos reduzir em 73% nossa emissão de carbono individual. É o que dizem pesquisadores da Universidade de Oxford. 

De fato, estamos em uma era em que as pessoas estão mais preocupadas com o impacto de toda sua cadeia de produção e consumo, principalmente a Geração Z. Segundo o The Economist, esse é o ano em que nos Estados Unidos o veganismo se tornou mainstream. Escolas no distrito de Los Angeles estão servindo merenda vegana, grandes redes de fast food já aderiram ao seu similar cruelty-free e ¼ dos americanos entre 25 e 34 anos se dizem veganos ou vegetarianos.  

E essa tem sido uma onda global. Países que possuem tradição em consumo de carne, como a Alemanha, França, Itáliae Espanha aparecem entre o top 10 dos países que mais lançaram produtos veganos no último ano. 

Alternativa fake

A revolução do nosso mindset de consumo alimentar é acompanhado de meios de produção inovadores. Como é o caso dos chamados plant-based burgers ou carnes vegetais, já que imitam uma carne de verdade no gosto e visual, mas que são feitas de ervilha, soja, grão de bico e outros componentes. 

A Beyond Meat, líder no mercado de carne vegetal, já está avaliada em US$ 9 bilhões e está presente em toda rede da Burger King e da KFC.

Aliás, as empresas novatas parecem estar incomodando os concorrentes, já que os americanos da indústria da carne estão brigando no mercado para que as plant-based não sejam mais chamadas de "carnes".

Há muita gente que reclama da textura e das propriedades nutritivas questionáveis desses alimentos, mas fato é que a startup brasileira Fazenda Futuro teve 2 milhões de discos de carne vendidos e obteve 23% de market share [parcela de vendas] de todos as marcas de hambúrgueres oferecidas em um dos seus pontos de venda.

O futuro é de carne de verdade, mas sem matar vaquinhas

Não esperem por um futuro do "parece mais não é". Os substitutos plant-based podem até estar no gosto popular mas é porque talvez ainda não ouviram os novos termos como clean meat (carne limpa) ou cultured meat (carne de cultura).

A carne limpa ou de cultura recria em laboratório, por meio de células e membranas animais, uma carne igualzinha a que consumimos hoje. Ou seja, eu vou ter uma carne de vaca sem matar nenhuma vaca. 

Hoje no mundo já são cerca de 30 empresas trabalhando para a cultura de carne de laboratório e os investimentos não tem sido poucos. A Cargill, gigante de alimentos e maior empresa do mundo de capital fechado, investiu na start-up americana Memphis Meat e israelense Aleph Farm para já garantir sua fatia nesse mercado.

Outra israelense que se destaca, a Future Meat Technologies, acaba de anunciar esse mês a construção da primeira fábrica – ou melhor, laboratório para produção em escala – o que significa que essa realidade está mais perto dos consumidores do que nunca.

Diante da oportunidade de ser mais ético e sustentável e para aqueles que nunca acreditaram ser possível aderir ao veganismo, talvez seja a hora de começar a marcar seu churrasco vegano para 2022. Vai ser indolor, prometo.

Sobre a Autora

Futurista formada em tecnologia e futurismo pelo TIP – Transdiciplinary Innovation Program da Universidade de Jerusalém. Expert em Consumer Behavior and Trends Research, Pós-graduada em Coolhunting & Trends pela Universidade de Barcelona e foi diretora de Planejamento e Consumer Insights da Box1824 durante 5 anos. Consultora e palestrante nas áreas de inovação, pesquisa de mercado, desenvolvimento de produtos, comportamento do consumidor e transformação digital, atua junto a grandes empresas mostrando o que elas devem fazer para sobreviver a esse novo mundo que vivemos e mudanças rápidas. Co-fundados de 2 startups: Unpark e WinWin.

Sobre o Blog

É possível analisar o futuro por 2 ângulos diferentes: aquele mais imediato, que prevê os acontecimentos dentro de 0 a 5 anos e é estudado e aprendido através do comportamento das pessoas; e outro ângulo mais longínquo, que enxerga um intervalo de tempo de 5 a 50 anos e que é totalmente baseado no desenvolvimento e uso da tecnologia. A ideia desse blog é justamente analisar os dois futuros juntos e entender como a tecnologia vai influenciar nossas vidas e como a forma como vivemos e nossos valores influenciam a tecnologia, atingindo um balanço complexo, porém em linguagem simples e quase chula, para que todos possam começar a pensar no futuro e entender que somos nós os responsáveis por construir um cenário positivo para todos. Ou não. O futuro está em nossas mãos e é um assunto urgente de ser tratado hoje.