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O Mundo Mudou

Em um mundo hiperconectado, a solidão mata mais do que obesidade

Daniela Klaiman

07/11/2019 04h00

Crédito: Unsplash

Idosas japonesas estão cometendo furtos para serem presas.

Sim, você leu certo. Hoje nas cadeias femininas do Japão, uma em cada cinco mulheres é idosa, presa por crimes de gravidade mínima como furto de comidas ou roupas. A sociedade japonesa está passando por um surto de crimes cometidos por mulheres com mais de 65 anos.

O motivo? Elas preferem viver presas em uma penitenciária do que sozinhas em suas casas. A maioria delas não falava com os seus parentes ou sequer tinha uma família. Estavam totalmente isoladas. Na cadeia, a solidão se foi.

Estamos vivendo uma epidemia da solidão

Hoje a solidão mata mais pessoas do que a obesidade no mundo, segundo cientistas da Universidade Brigham Young nos Estados Unidos.

Vivemos em um momento no qual o isolamento social em excesso afeta o bem-estar da vida de muitas pessoas. Os efeitos do isolamento ao corpo já são comparados ao de uma pessoa que fuma 15 cigarros por dia. 

No Reino Unido, um estudo da British Red Cross apontou que mais de 9 milhões de britânicos se sentem sozinhos. Já nos Estados Unidos, a companhia Cigna identificou que quase a metade dos americanos (46%) afirmaram se sentir sozinhos às vezes ou sempre!

O isolamento não tem idade, sexo ou etnia. Apesar de associarmos a solidão a uma condição da terceira idade, são os nascidos entre meio dos anos 1990 até 2010 (Geração Z) os que se sentem mais sozinhos. 

A ironia é que, ao mesmo tempo que as redes sociais oferecem infinitas possibilidades de se conectar com outras pessoas, a solidão se tornou uma epidemia global.

Pessoas cada vez mais sozinhas na multidão

Parece estranho falar em solidão quando vivemos agrupados em cidades com milhões e milhões de habitantes. A questão é que. independentemente do tamanho da sua comunidade, do número de amigos que você tenha na rede social ou até das vezes que você vai ao bar, restaurante ou shopping, a solidão não tem a ver apenas com sair de casa ou conversar com alguém.

O que acontece é que convivemos com as pessoas nos chamados espaços de transição. Cruzamos com milhares de pessoas a cada dia, porém nem sequer trocamos olhares com elas. Precisamos do contato olho no olho e confundir sociabilidade com conectividade é um dos maiores perigos da atualidade. 

Assim entendemos que a solidão tem a ver com o pertencimento. Se você não se sente parte do seu grupo, não interage com ele, você vai se sentir sozinho.

Todos por um!

Esse problema é tão grave que já vemos surgir algumas tentativas de combater essa epidemia global de solidão. 

No início do ano passado, o Reino Unido anunciou a criação do Ministério da Solidão para criar soluções e pensar nessa doença moderna. A Alemanha, por sua vez, acabou de convocar uma comissão especial para mirar nesse tema.

As cidades mais desenvolvidas, por sua vez, estão começando a rever seus projetos urbanos construindo áreas de convívio e espaços que incentivem maior interação social. 

No futuro, as cidades e as políticas públicas, além de inteligentes, também deverão ser humanizadas.

Sobre a Autora

Futurista formada em tecnologia e futurismo pelo TIP – Transdiciplinary Innovation Program da Universidade de Jerusalém. Expert em Consumer Behavior and Trends Research, Pós-graduada em Coolhunting & Trends pela Universidade de Barcelona e foi diretora de Planejamento e Consumer Insights da Box1824 durante 5 anos. Consultora e palestrante nas áreas de inovação, pesquisa de mercado, desenvolvimento de produtos, comportamento do consumidor e transformação digital, atua junto a grandes empresas mostrando o que elas devem fazer para sobreviver a esse novo mundo que vivemos e mudanças rápidas. Co-fundados de 2 startups: Unpark e WinWin.

Sobre o Blog

É possível analisar o futuro por 2 ângulos diferentes: aquele mais imediato, que prevê os acontecimentos dentro de 0 a 5 anos e é estudado e aprendido através do comportamento das pessoas; e outro ângulo mais longínquo, que enxerga um intervalo de tempo de 5 a 50 anos e que é totalmente baseado no desenvolvimento e uso da tecnologia. A ideia desse blog é justamente analisar os dois futuros juntos e entender como a tecnologia vai influenciar nossas vidas e como a forma como vivemos e nossos valores influenciam a tecnologia, atingindo um balanço complexo, porém em linguagem simples e quase chula, para que todos possam começar a pensar no futuro e entender que somos nós os responsáveis por construir um cenário positivo para todos. Ou não. O futuro está em nossas mãos e é um assunto urgente de ser tratado hoje.